CARLOS HENRIQUE MACHADO E O VALE DOS TAMBORES
 
    Marcello Laranja, presidente do Clube do Choro de Santos entrevista o professor, pesquisador, compositor e bandolinista de Volta Redonda (RJ), Carlos Henrique Machado Freitas, idealizador do Projeto Vale dos Tambores.
Marcello:
      Prezado Carlos Henrique, esse trabalho eu classifico como um dos mais  importantes já feitos em matéria de choro no Brasil. Se me permite assim  colocar, um verdadeiro concerto popular de choro. Respectivamente, concepção,  pesquisa, composição, arranjo e execução. Absolutamente perfeito. Como surgiu a  idéia e a partir de quando você iniciou a pesquisa.
CARLOS HENRIQUE:
      Em primeiro lugar, agradeço as suas palavras de carinho com o nosso trabalho.  Vale dos Tambores, na realidade, é um projeto que aconteceu pelas circunstâncias  onde se misturam a minha história com a música, com o choro e a minha vivência  cotidiana com pessoas aparentemente comuns, mas que, na realidade, são  verdadeiros tesouros de criatividade artística. O nome Vale dos Tambores surge  no sentido inverso de um imaginário do vale dos Barões como se a interferência  deles tivesse produzido o padrão musical nesta região, coisa que, de fato, não  houve. A música das bandas de escravos que eram de propriedade dos barões, toma  caminhos próprios nas mãos de músicos negros que produzem em suas obras, a  grande maioria delas, informalmente, um dos atos mais impressionantes de resistência  cultural. A idéia de fazer este trabalho surgiu logo após o lançamento do meu  primeiro CD “Comigo Não, Violão!” com quatorze composições minhas e que foi  muito bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público. E como havia as  inevitáveis perguntas: de onde eu era e quais eram as minhas influências, além,  logicamente, das clássicas influências dos ícones do choro, Zequinha de Abreu,  Jacob do Bandolim, Garoto, João Pernambuco e etc., falei do meu universo e  influências que só nas pesquisas pude constatar que eram relacionadas à minha  memória afetiva, família, bairro, cidade, região. Mas percebi que o Vale do Paraíba  tinha uma grande história porque em torno da bacia das águas do Rio Paraíba,  nasceram grandes nomes nestes três estados que compõem a bacia, Minas, São  Paulo e Rio, bem no coração do sudeste e que recebeu gente, em função dos  ciclos econômicos, de várias partes do Brasil, transformando-a numa grande  bacia cultural. Nomes, como por exemplo: Altamiro Carrilho, Patápio Silva, Ari  Barroso, Clementina de Jesus, Mano Elói, Rosinha de Valença, Bonfiglio de  Oliveira, Dilermando Reis e etc., dezenas de artistas que saíram das águas da  bacia do Rio Paraíba, ganharam o mundo representando a música brasileira. Não  quero, com isso, dizer que o Vale do Paraíba seja mais especial que o resto do  Brasil, quis chamar a atenção para o fato de que, se pretendemos mesmo descentralizar  os focos das grandes capitais, precisamos procurar a grande música que existe  nos quatro cantos do Brasil, rica, criativa e autônoma, da grande metrópole ao  menor distrito, é só uma questão de foco.
Marcello:
      Você por acaso esteve em alguma daquelas cidades do Vale do Paraíba  mencionadas?
CARLOS HENRIQUE:
      Pois é, nesse ponto, tive muita sorte. Sou de Volta Redonda, uma cidade que é  uma espécie de entroncamento onde foi escolhida para a instalação da Cia. Siderúrgica  Nacional em função da sua geografia estratégica, ou seja, entre Rio, São Paulo  e Minas. Essas cidades estão representadas pela própria população de Volta  Redonda que é bastante heterogênea, pois pessoas de todo o Brasil vieram  trabalhar aqui, mas a grande maioria é dos arredores, além disso, as cidades são  muito próximas uma da outra em que a distância, às vezes, é só de dez quilômetros.  Fomos à maioria das cidades e distritos da bacia do Rio Paraíba, fomos a  quilombos, assistimos a encontros de jongueiros, encontro de congadeiros,  conversamos com historiadores, assistimos cirandeiros, calangueiros, encontros  de folias de reis e conversamos muito com as pessoas de cada cidade e de  manifestações de caráter espontâneo, como já dissemos, essas pessoas guardam  tesouros de informações.
Marcello:
      E você também manteve contato com alguma daquelas pessoas citadas na obra, como  por exemplo, a velha jongueira Tia Marina, Verino e Benedito, os cirandeiros de  Paraty, o sapateiro Padilha, dentre outros, ou você não chegou a conhecê-los,  elaborando, portanto, a pesquisa à distância?
CARLOS HENRIQUE:
      Algumas pessoas, como, o querido sapateiro Padilha, tive uma relação durante  quase toda a minha vida, uma figura extraordinária. Tia Marina, conhecemos, em  função da pesquisa, é uma iluminada rainha negra, absolutamente encantadora, um  ser humano especial. Ela é um manancial de sabedoria herdada dos seus  ancestrais escravos desta região. Sr. Verino, estivemos com ele em sua casa e,  pacientemente, nos explicou a influência da ciranda portuguesa, caninha verde,  catira, assim como estivemos com o encantador, Sr. Benedito, que toca o  pandeiro na ciranda da forma como era tocado no princípio, como adufe, uma espécie  de pandeiro quadrado tocado com fricção. Tínhamos a intuição, mas precisávamos  nos certificar daquilo que imaginávamos, vendo tudo de perto e conversando com  as pessoas.
Marcello:
      Muitos pesquisadores já falaram a respeito dos diversos tipos rítmicos que o  Brasil possui e você reforça isso na sua obra, dentre eles, o tambor de crioula  do Maranhão, o bambêlo do Rio Grande do Norte, o coco solto em Alagoas e o  samba de roda na Bahia. O Brasil é um produto dessa profusão de ritmos, além do  que os percussionistas brasileiros que são absolutamente fantásticos. Você não  acha?
CARLOS HENRIQUE:
      Quando estivemos em Cariacica, no Espírito Santo, em busca de informação sobre  o congo, para homenagear o querido amigo Jovaci, um grande líder carnavalesco  daqui de Volta Redonda, encontramos lá em Cariacica no “Carnaval do Congo”, Naná  Vasconcelos, pernambucano que tem em seu currículo, a maior premiação que um  percussionista poderia receber no mundo. Assim como a gente, lá estava ele,  pesquisando, atento aos ricos tambores capixabas de onde surgiu um dos maiores  sucessos dos últimos anos de Martinho da Vila, “Madalena Madalena”. No último  prêmio TIM, o CD “Tum Tum Tum, de Déa Trancoso recebeu quatro indicações, um  trabalho lindo e rico em que ela canta os tambores e as sabedorias de gente  pobre e simples do Vale do Jequitinhonha. Os tambores estão por todo o Brasil,  no congo e ticumbi do Espírito Santo, no jongo, no calango, no partido alto, no  maracatu de Pernambuco, nas bandas de couro ou cabaçal do Ceará, na chegança de  Sergipe, nas congadas e folias mineiras que inspiraram uma das principais obras  de Milton Nascimento, ganhador do Grammy “Tambores de Minas”. No tambor de mina  e de crioula maranhenses, no batuque de umbigada e moçambique de São Benedito  paulistas, enfim, não há lugar neste país onde os tambores não sejam fartamente  tocados. Nos terreiros religiosos, no candomblé, umbanda, candomblé, catimbó,  este último que inspirou o grande Pixinguinha a compor “Urubatã” segundo Mário  de Andrade, estava ali a grande genialidade de Pixinguinha, reproduzir, a seu  modo, um clássico do choro brasileiro “Urubatã”, os cantos e tambores  brasileiros. Os tambores que ecoam por toda a Bahia e as baterias de escolas  samba por todo o Brasil..
Marcello:
      No Vale dos Tambores você destaca a importância e a presença do negro na  cultura brasileira. Fale algo a respeito disso.
CARLOS HENRIQUE:
      Algumas pessoas insistem em que deveríamos vender a imagem de um outro Brasil e  dizem que só sabemos vender a imagem de um Brasil dos batuques e do futebol.  Ora, em função do futebol, conseguimos nos impor no mundo esportivo, por isso,  nos deram o título de pátria do atleta do século, Pelé. Não é o jogador de  futebol do século, é o atleta do século. Qual o país do mundo não gostaria de  ostentar essa imagem?
      Quanto aos tambores brasileiros, eles, são o nosso maior referencial. Se hoje,  estamos sendo considerados por todo o mundo como o país mais importante da música,  devemos isso, em grande parte, aos nossos tambores. Está tudo ali, é só  ouvi-los sem preconceito, é só ouvi-los com a grandeza que eles têm, é só  ouvi-los com a erudição que eles guardam, com o lirismo que ecoa de cada  pancada dada em seus couros. Nossos tambores são a nossa alma. Nossa música é o  retrato fiel desses tambores. Os tambores estão nas obras dos nossos grandes  compositores, Villa Lobos, Camargo Guarnieri, Nazareth, Pixinguinha, Garoto,  Marlos Nobre, Francisco Mignone, Lourenzo Fernandez. Particularmente, no choro,  que é a nossa mais representativa linguagem na música, os tambores estão em  cada um dos instrumentos, seja, na formação tradicional ou em suas múltiplas  vertentes, o tambor está ali, com sua tensão, seu lamento, seu swing, dando  conta de como bate o coração do povo brasileiro.
Marcello:
      Agora falando mais especificamente do seu conjunto, aliás formado por uma nova  geração de chorões. Mas o que me chamou bastante a atenção foi a presença de um  integrante, ilustre representante da velha guarda chorona, o Sr. Luiz de  Miranda, tocador de cavaquinho e violão de 8 cordas. Muito marcante a presença  dele no grupo. Então meu prezado Carlos Henrique, fale algo sobre essa turma  fantástica. Como você os encontrou e os selecionou. Qual a idade média dos  integrantes. Vocês tocam juntos faz tempo ou foi coisa recente.
CARLOS HENRIQUE:
      Luiz de Miranda é o que podemos classificar como a “Santíssima Trindade” do  choro, um mestre das cordas. Tanto no violão, quanto no cavaquinho e no  bandolim, Miranda rouba a cena. Repito sempre, a todos os outros integrantes do  grupo, o seguinte: nós tocamos choro, Miranda é o choro, é a encarnação da  fluidez, da vivacidade do universo que envolve a aura do choro. Tive a  felicidade de, ser levado pelas mãos do meu pai, ver pela primeira vez um grupo  de choro, eram todos da mesma família, primos, tios, um grande grupo, todos da  família do Miranda. Tanto no CD quanto nos shows, se misturam três a quatro  gerações, com as mais distintas influências. Músicos que vão dos vinte e poucos  anos aos setenta e, se aliam num sentimento só para tocar o choro, isso é uma  maravilha. A formação do grupo em si foi recente, quis mostrar o quanto temos  de talento nesta região e, pode acreditar, eu poderia formar um novo grupo também  daqui da região a cada das trinta e cinco músicas, o nível continuaria o mesmo.
Marcello:
      Como está o reconhecimento do público com relação ao Vale dos Tambores. Está  havendo bastante aceitação? É sucesso absoluto?
CARLOS HENRIQUE:
      Bastante, graças a Deus, e, de forma crescente, o que nos intriga, pois o Vale  dos Tambores após dois anos de seu lançamento, recebeu nestes últimos meses,  uma quantidade enorme de manifestação de apoio com esta segunda edição.  Esperamos que o Vale dos Tambores se estenda ainda mais com uma melhor  distribuição e que chegue a mais pessoas as mensagens contidas no projeto.
Marcello:
      No ano passado, mais precisamente em agosto, você esteve em São Paulo na  inauguração do Projeto Rua do Choro na ULM na General Osório, brindando-nos com  uma palestra e uma apresentação no palco. Fale sobre essa experiência. Você  acha que esses projetos de Ruas do Choro atingem seus objetivos? É importante  esse intercâmbio – como aconteceu em Sampa – entre os músicos de diversos  lugares e regiões?
CARLOS HENRIQUE:
      Na verdade Marcello, nós é que fomos brindados, pois estabelecemos uma relação  com as pessoas ligadas ao choro de São Paulo e que se transformaram em queridos  amigos, como você. Além do quê, assistimos nos fundos da loja Contemporânea,  uma das mais belas imagens que o choro e seu universo poderiam me proporcionar,  uma comovente roda de chorões, em sua grande maioria, de cabelos brancos, numa  paixão explícita à música brasileira. Não tive dúvidas, compus um choro  inspirado naquela poética imagem que me levou a viajar imaginando o Garoto, um  dos meus grandes ídolos, tocando em lugares como aquele. A música vai estar no  meu próximo trabalho com o nome de “Comovente”, em homenagem aos geniais chorões  de São Paulo. Por isso, o intercâmbio é fundamental, quebra preconceitos,  amplia os horizontes do choro e, aos poucos, com a lucidez devida, vamos  entendendo que o choro é responsável por uma grande orquestra brasileira tocada  por várias mãos em vários sotaques. Na verdade, a Rua do Choro é uma representação  de um símbolo brasileiro, pois o choro caminha por todas as ruas deste país.
Marcello:
      Eu não poderia de jeito nenhum esquecer da participação de sua esposa Celeste  Silveira. Ela foi produtora e coordenadora do projeto, além de revisora de  textos e auxiliou também na pesquisa. Fale mais alguma coisa a respeito da  participação dela. Aliás, eu acho que a mulher é absolutamente fundamental em  todos os sentidos. Você concorda?
CARLOS HENRIQUE:
      Celeste tem uma história com o choro bem mais ampla que a minha. Vem de muito  longe isto. A foto que faz parte do livreto é de uma banda de música de 1890,  da fazenda Bonsucesso na cidade de Natividade que também faz parte da Bacia do  Rio Paraíba. Esta banda é formada por ancestrais diretos da Celeste. A banda  executava dobrados, choros, valsas. No meu livro de partituras tem uma foto de  uma escola de música no interior do Espírito Santo, a escola leva o nome de sua  avó “Escola de Música Arlinda Alves Vieira” que era flautista. O pai da  Celeste, Sr. Toninho, era trombonista, assim como o seu tio Mário que era  saxofonista e clarinetista, os dois faziam parte de um grupo de choro e da  banda do município de Iúna - ES e, eram responsáveis por essa escola de música  para jovens daquela região. Por isso, Celeste mergulha de corpo e alma neste  universo, pois retrata de forma cristalina toda a sua formação cultural.
Marcello:
      Recentemente você me disse que já está trabalhando em outro projeto, o Força  Bruta. Fale alguma coisa – se você puder adiantar algo - a respeito e nos diga  o que você irá focalizar.
CARLOS HENRIQUE:
      Tento entender, há muito tempo, porque fazer música brasileira no Brasil é uma  via crucis. De onde partem as ordens do meio oficial do Brasil que barram as  manifestações culturais do seu povo. Quem são os mandatários disso e sob que  olhar. É incompreensível que, eu, como contribuinte, não me sinta representado  pela grande maioria das nossas instituições de arte. Na verdade, lanço mão  neste próximo trabalho, da visão que Mário de Andrade tinha sobre tudo isso,  mais especificamente, o seu combate a esta miopia humana que sempre produziu no  Brasil, uma relação de menosprezo a tudo que flui naturalmente do seu povo,  tratando como uma arte menor, rudimentar, primitiva no sentido pejorativo. Lógico  que o Brasil carece de uma discussão ampla, franca, distante da proteção dos  palácios que dão dimensão otimizada a tudo o que é europeu. Os argumentos são  de um vazio tão profundo que não se sustentam numa terceira pergunta franca,  direta, de como se mede a qualidade de um sentimento. Não posso crer que  enxerguemos a arte pela técnica, imagino a arte como uma expressão sagrada que  revela o homem. Sem isso, não há arte, há clichês, há doutrinas, há dirigismos,  há mordaças. A arte é a nossa mais fiel fonte de transgressão. É pela arte que  o homem anda, é pela arte que ele pode expressar sua lógica de mundo. Poderia  entender que, por obra de um medo, de um assombro colonizador, alguns  brasileiros acreditem, de fato, serem menores que outros homens de outros  mundos. O que não posso entender é que, numa instituição pública de cultura não  se estude o seu próprio universo. Seria mais ou menos o seguinte: estudaríamos  a resistência do solo de uma determinada área no Brasil, buscando em laboratórios  europeus, resultados de seus solos para construirmos as nossas casas aqui no  Brasil. O Brasil já provou por A mais B que não tem um mínimo de traço xenofóbico,  nós sofremos aqui dentro a xenofobia européia nas artes, tendo o estado  brasileiro como o principal patrocinador. Acho que ainda não atentamos pra  isso. O que queremos é saber da história do mundo, da música do mundo, mas também  da nossa. Não brigo pela exclusão de nada, não posso brigar contra a informação,  brigo por muita informação, principalmente sobre a minha própria vida. Porque é  isto que um estudo sobre a cultura brasileira nos revelaria. Por que produzimos  tal arte? Praticamente, este estudo da música brasileira foi interrompido após  a morte de Mário de Andrade. O que proponho é que retomemos aquela direção que  Mário de Andrade, solitariamente, iniciou e ampliou o nosso entendimento sobre  a música brasileira. Força Bruta quer tratar da delicadeza ainda não lida com a  devia atenção que deveria ter do universo musical brasileiro. Quero chamar atenção  para isso. Ali, no meio daquele universo de cultura espontânea há uma arte  requintada, com códigos próprios, texturas, estéticas e componentes sociais de  extrema sabedoria. Nós é que não temos ferramentas para compreendermos tudo  isso. É disso que o projeto Força Bruta vai falar, tendo o choro como principal  catalisador natural dessa extensa linguagem brasileira.

    
Marcello:
      Você tem andado por aí, por esse brasilzão de meu Deus, participando de encontros, reuniões, fazendo palestras, enfim, apresentando seu trabalho e dando, obviamente, sua contribuição ao universo do Choro. Conte para nós como andam as coisas pelos lugares por onde você esteve. Conte-nos as novidades.
CARLOS HENRIQUE:
      Dia desses tive a oportunidade de participar de um debate os rumos da música instrumental brasileira no Clube do Choro de Brasília sob a coordenação do Reco do Bandolim, o encontro teve como palestrante o jornalista e músico Luis Nassif e participaram, além do Reco e eu, Eduardo Graeff e Aldo Rebello. Pois é, tem muita gente boa que quer discutir o choro no Brasil, muita gente trabalhando em prol de uma visão mais ampla do que classificamos como choro. Há, neste momento, no Brasil, uma necessidade da retomada de caminhos mais verdadeiros. Tenho tido grandes surpresas, músicos, jornalistas, intelectuais querendo discutir o choro de forma mais ampla, onde ele se localiza, qual o tamanho de sua representatividade e etc. Eu, que defendo um olhar mais cirúrgico, tenho tratado de estabelecer um elo entre todo esse universo espontâneo das nossas manifestações culturais com a grande música ouvida na Semana de Arte Moderna de 22, em que, o choro é o pilar central que produz esta junção. O choro é a instituição de arte mais importante do Brasil, disso, não tenho dúvidas. Não há nada neste Brasil que não esteja representado no grande caldeirão do choro. Pode ter vários nomes, pode vir de várias partes do país, pode vir de várias formas, mas se olharmos com bastante critério, perceberemos que, mesmo embalado de forma não tradicional, o choro estará ali representado instrumental ou cantado. Por isso, reclamo insistentemente, um assento permanente nas Instituições Vinculadas no Ministério da Cultura para a música brasileira. Está mais do que na hora de nos aprofundarmos na representação da mais rica expressão brasileira nas artes, a música. Por isso, recebemos a notícia da parceria do Espaço Cultural do Choro e seu Centro de Referência do Choro com e Escola Raphael Rabello com UNB. É um marco que, com certeza, irá se refletir em todo o Brasil, com parcerias semelhantes.
Marcello:
      Finalmente, meu prezado Carlos Henrique, a pergunta – que na realidade não é uma pergunta, mas uma colocação -- que eu faço a todos os nossos amigos entrevistados: fale alguma coisa a respeito do trabalho por nós desenvolvido no Clube do Choro de Santos há cinco anos e deixe-nos uma mensagem. 
CARLOS HENRIQUE:
      Essas ações como as do Clube do Choro de Santos, são das coisas mais fundamentais para que o choro consiga ampliar a sua imagem. É um trabalho grandioso, construtivo, consistente, que avança e muito no sentido de propor um olhar descentralizado e, com isso, contribuir efetivamente para que possamos mapear o choro brasileiro. Ontem mesmo, através de uma grande cantora capixaba, Ava Araújo, que também faz um exemplar trabalho, pois arregaça as mangas e constrói, cria novos espaços, produzindo pontos de encontro de músicos e idéias em seu blog, nos informou que está nascendo no Espírito Santo, um grande movimento do choro liderado pelo excelente grupo H2o, onde, por iniciativa deles e apoio de outros artistas como a Ava, será incrementado um bairro antigo de Vila Velha, Paul, para se tocar e ouvir choros e sambas. Uma beleza! Ações como essas estão se repetindo no Brasil como um grande combinado. Quanto à vocês do Clube do Choro de Santos, só a entrevista com os filhos de Garoto, já valeria por cem anos de trabalho. Eu, que pesquisei a obra de Garoto durante dois anos, careci de informações sobre este gênio da música brasileira. Somado a isso, a abertura de vocês, convidando talentos de todo o Brasil com os próprios músicos de Santos e São Paulo, o resultado não poderia ser outro. É um trabalho lindo, mas, acima de tudo, com extrema objetividade que vai da poesia à ação concreta. Estão todos de parabéns.
- Valeu Carlos Henrique. Deixe seus contatos (site, email, telefones) para que todos tenham oportunidade de conhecer melhor sua obra. Forte abraço e muito obrigado. Esperamos reencontrá-lo brevemente.
Site - http://www.carloshenriquemachado.com.br/index.php
e-mail – chorobrasileirocarloshenrique@yahoo.com.br
Tel. (24) 33363195 e (24) 31120876
 
    
  
